Eu e um grupo de amigos estávamos sentados a uma mesa, tagarelando a respeito da vida e das convictas filosofias, que muitas das vezes, não fazem o mínimo sentido apesar de fazer algum sentido, afinal de contas, se não fizesse sentido, não seria uma filosofia. Ou talvez seria.
Então, um dos amigos que tomara as rédeas da conversa pra si, questionou: "Qual a imagem mais bonita vocês já viram?". Sem muito pensar, ecoou o vozerio, cada um descrevendo a sua imagem, um por cima do outro. Eu sussurrei seu nome. De imediato todos me olharam. Não sei como, o sussurro falou mais alto que todas as vozes elevadas, deixando-me constrangido com todos os olhares voltados a mim. Até o garçom ouviu e parou para admirar.
Desconcertado, sussurrei novamente seu nome. Expliquei que, para que vislumbrassem, como eu, a beleza que vi, era preciso de sutileza e tranquilidade. Pus-me então a descrever uma obra de arte. A obra, claro, nunca existiu, mas pintei em minha mente a sua face sobre uma tela branca. Tons pálidos, porém alegres. Ao fundo uma paleta de fim de tarde, nos olhos a expressividade de um sorriso que mistura timidez com vivacidade. Vivacidade com melancolia. Os cabelos pendiam pelo ombro direito, ligeiramente inclinado, a mão esquerda alisava a parte de trás do cabelo. Apesar da pintura ser estática, era possível enxergar os movimentos. Olhar para este quadro não trazia nenhum sentimento senão o de paz.
Todos continuavam olhando atentamente a descrição que eu fazia. O que antes era uma pergunta banal numa roda de amigos, tornou-se a atração do local. Então perguntaram: "Onde encontramos essa obra-prima?". Não encontrarão em museus nem galerias, respondi. "Foi destruída? Roubada?". Gritou alguém em outra mesa. Também não, respondi. "O que aconteceu?". Questionavam, tentando compreender como era possível algo de tamanho valor sumir assim.
Essa pintura, amigos, só pode ser vista uma vez, pois sempre que se olha, ela muda de figura. É sempre uma nova experiência olhá-la. É sempre uma nova arte, um novo traço. Um novo eu. E é por isso que ela sempre será uma obra-prima.
Não dá para parar de ler depois começa. E quando acaba tem que voltar e ler de novo, mas só depois de recuperar o fôlego. Que texto! (Empatou com "de repente")
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