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Último Texto

Dignidade

Não sou digno que a felicidade sorria para mim. Perceba que eu disse que não sou digno e não sou merecedor. É que a felicidade é fim último de todos e todos, sem exceção a merece. Mas ser digno de felicidade é diferente. Só é digno da felicidade aquele que possui bravura. É aquele que não tem medo dos nãos e das portas fechadas. Aquele que cria as condições ou, pelo menos, tenta criar os meios de atingi-la.  A felicidade é passiva. Você quem deve ir atrás dela e não esperar que ela aconteça. A felicidade se constrói enquanto se vive, não é um estado de graça, que uma vez atingido, permanece. Ela é como a própria vida. Ela até paira por nós, mas só de fato vive àquele que escolhe os próprios caminhos.  Só é feliz quem vive. Só vive quem é feliz. Os demais, se contentam com a efêmera sensação de ser feliz, só porque, num dia de céu claro, um leve sorriso foi visto no espelho.

Realidade

Eu sou um consumidor assíduo de fantasias. Sempre que posso, estou lendo, vendo algum filme ou série e até mesmo inventando histórias. Quando estas fantasias são bem escritas, bem elaboradas, bem encenadas, despertam em mim sentimentos reais. E esse é o problema.

Por estar sempre submerso num mundo irreal, fantasioso, por me sentir envolvido com personagens que não existem, mas naquele momento são pessoas como quaisquer outras que eu possa ver ou tocar, por ouvir, ler, ver histórias que são críveis de serem vividas por mim mesmo ou pessoas que eu sei que existem, tenho grande tendência a ver a minha vida real como essas histórias.

Um bom exemplo disso é que nunca imagino que as pessoas serão capazes de serem más, não de propósito, não sem uma razão humana, sentimental, que as façam agir fora da ética, não vejo maldade nas pessoas, porque, muitas das vezes, não vejo maldade em mim. Então estou sempre disposto a esperar o melhor das pessoas.

Tudo bem que nas fantasias nas quais mergulho, existem, muito distintamente, os bons e os maus. Mocinhos e vilões. Mas na realidade, as coisas não são tão preto no branco quanto a ficção nos pinta. E então, por basear em mim mesmo, não espero que as pessoas serão capazes de machucar umas as outras. 

Sim, eu sei que eu também causo dor e que também machuco as pessoas às vezes, mas nunca o fiz de maneira deliberada e proposital. Nunca de caso pensado. A dor que causo, causo por ser humano e como humano, erro.

Sempre vejo a minha história de vida, como ou se estivesse em um livro, ou como se eu estivesse em um filme, em que eu sou o personagem principal, porém, na maioria das vezes, não faço a mínima ideia de qual roteiro seguir. O que fazer? Para onde ir? A quem dedicar meu tempo? Quem eu devo amar?

Minha vida amorosa é uma mistura de comédia romântica e drama. Sempre me iludo que "agora vai". Nunca foi. Quando encontro alguém que se encaixa em muitos dos pontos em que as outras nem sequer chegaram perto, há impedimentos. Ainda assim, fico a espera de um final feliz. Como se na vida houvesse final. Na vida só a fim quando a morte chega, e pensando bem, não quero conhecer a morte tão cedo.

A realidade não é um livro ou um filme, onde após tudo dar errado, no fim tudo vai dá certo. Nossas ações tem consequências e muitas delas permearão nossas memórias até o fim de nossas vidas. Na realidade, o mocinho não fica com a mocinha, os impedimentos não se desfazem assim, num passe de mágica ou num mero conjunto de acasos.

As lições demoram a ser aprendidas. Isso, quando são aprendidas. Os vilões, se é que na realidade existem vilões, muitas das vezes, não são pegos. Em alguns momentos de nossas vidas, nós mesmos somos os vilões de nossas histórias.

Apesar de a realidade muitas vezes ser completamente distante das ficções nas quais vivo mergulhado, de ser dolorosa em alguns momentos e de não ser percebida como deveria ser, ela ainda traz muitos sentimentos bons, muitas vezes melhores que os que sentidos enquanto absorto em ficções. 

Talvez as ficções tenham me ensinado a aceitar as frustrações que a vida nos impõe. Talvez eu tenha aprendido a amar em silêncio e de longe. Um amor singelo, real, mas não palpável. Talvez eu tenha aprendido a não desistir dos meus sonhos. Talvez eu tenha aprendido a ser o protagonista da minha própria história.

Talvez, pessoas que não existem, tenham me ensinado a lidar melhor com o que me acontece na realidade em que vivo. Talvez tenham me ensinado a ser feliz apesar da tristeza que envolve a vida. Talvez tenham me ensinado a lidar com a dor e ainda assim, sorrir.

A realidade é que a ficção pode ser o escape que nos possibilita tomar as rédeas que nos fazem protagonistas de nossas histórias. Talvez eu não tenha aprendido, mas esteja sempre aprendendo com a ficção. E assim, como quem não quer nada, tenho vivido a realidade com um quê de fantasia.

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