Num devaneio jamais visto em toda a história humana, eu, digo isso jurando de pés juntos - nem sei qual seria a diferença se jurasse de pés separados, mas assim é o ditado - afirmo com todas as letras que ouvi os dias da semana conversando em meu calendário. Mais precisamente, passou-se em frente a mim, uma conversa fiada entre o Sábado e o Domingo. Eis o que escutei:
- Domingo: Sabe, Sábado?
- Sábado: Sei não, Domingo. O que foi?
- Domingo: Não sabe o quê?
- Sábado: Não sei, uai! Você perguntou se eu sabia, eu respondi que não sei.
- Domingo: Mas como você me responde sem nem saber qual é a pergunta?
- Sábado: E você não perguntou se eu sabia?
- Domingo: Foi uma pergunta retórica, Sábado, pra puxar assunto.
- Sábado: Ah, podia ter usado uma interjeição, me chamado pelo nome, assoviado. Não se abre uma conversa com uma pergunta retórica e faz silêncio. Por que não mendou logo no que queria dizer? Perguntas retóricas no início do diálogo são inúteis, como nós!
- Domingo: Uai, como assim nós somos inúteis? Bebeu foi? Pegou a sobra da sexta?
- Sábado: Você nunca reparou que somos os únicos dias da semana que não tem feira no nome? E por quê? O que a gente fez pra merecer isso, Domingo?
(A voz do Sábado embargou. Fungada de nariz)
- Sábado: Além disso, quase ninguém trabalha nos nossos dias. A maioria fica improdutivo. Tudo fechado. Somos uns inúteis, domingo! Uns inúteis!
(Sábado chora)
- Domingo: Você tá naqueles dias, né Sábado?
- Sábado: Que dias, Domingo?
- Domingo: Naqueles dias, você sabe!
- Sábado: Não, Domingo, eu não sei. O que você tá insinuando?
- Domingo: Naqueles dias, Sábado... Fim do mês.
- Sábado: Por que pergunta?
- Domingo: Eu sou o dia mais parado, o dia do tédio. Ninguém quer fazer nada quando é meu dia. Já me acostumei com o marasmo e o cheiro de churrasco aqui e acolá.
(Domingo funga enquanto fala do cheiro de churrasco)
- Domingo: Já percebi que você e a sexta-feira são bem amiguinhas. Os humanos se divertem nos seus dias. A sexta virou até verbo. Eu tenho dó é da segunda-feira. Ninguém gosta dela.
Ainda com a voz embargada, sábado responde:
- Sábado: Ainda não entendi o porquê de me perguntar se eu estava naqueles dias...
- Domingo: Ora, Sábado. Os humanos estão sempre se divertindo com você e a sexta-feira, mas quando chega o fim do mês, algo acontece que eles não saem e o sábado vira um domingo pelas metades. Aí você fica aí toda se lamentando que é inútil. Eu até aceitaria se você dissesse que é semi-inútil, pois eles ainda trabalham na parte da manhã, e bem felizes por ser só metade do tempo, se alguém pode reclamar de ser inútil, esse alguém sou eu.
- Sábado: Bem... Talvez você tenha um pouquinho de razão. Quando tô nesses dias minha cabeça fica cheia, sabe?
- Domingo: Não, não sei.
- Sábado: Era retórica!
- Domingo: Agora pode fazer perguntas retóricas, né? Tô falando que eu sou incompreendido nesse calendário...
Charlito Pimenta
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