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Dignidade

Não sou digno que a felicidade sorria para mim. Perceba que eu disse que não sou digno e não sou merecedor. É que a felicidade é fim último de todos e todos, sem exceção a merece. Mas ser digno de felicidade é diferente. Só é digno da felicidade aquele que possui bravura. É aquele que não tem medo dos nãos e das portas fechadas. Aquele que cria as condições ou, pelo menos, tenta criar os meios de atingi-la.  A felicidade é passiva. Você quem deve ir atrás dela e não esperar que ela aconteça. A felicidade se constrói enquanto se vive, não é um estado de graça, que uma vez atingido, permanece. Ela é como a própria vida. Ela até paira por nós, mas só de fato vive àquele que escolhe os próprios caminhos.  Só é feliz quem vive. Só vive quem é feliz. Os demais, se contentam com a efêmera sensação de ser feliz, só porque, num dia de céu claro, um leve sorriso foi visto no espelho.

Amor de Infância

Essa era mais uma terça-feira qualquer. E como toda terça-feira qualquer, nosso herói se dirigia para casa, no horário de almoço, como é de hábito seu todos os dias. É fato que em ocasiões excepcionais, como dias de chuva, esse hábito é quebrado, mas como estamos no norte de Minas, a chuva em si, já é uma exceção por natureza, mas não é essa a questão aqui, seguimos com nosso relato.

Nosso herói se dirigia para casa e, a fim de complementar sua refeição diária, resolveu ir até o supermercado. Adentrou-se no estabelecimento, pegou uma cestinha, passou pelas gôndolas, pegou um produto aqui, outro ali e quando deu-se por satisfeito, dirigiu-se até o caixa rápido - é bem verdade que os caixas rápidos não são rápidos, muito menos se leva em consideração, de fato, a quantidade de volumes que se dirige até ele (talvez esse seja tema para um outro debate).

Enquanto aguardava na fila, passeou os olhos pelo estabelecimento, a fim, claro, de observar o movimento, como faz qualquer pessoa que sabe que o caixa rápido vai demorar. Foi durante esse passear de olhos que avistou ao longe, nada mais, nada menos, do que seu amor platônico da juventude. E que bela vista ela apresentava.

Logo que a viu, sua mente colocou-se a trabalhar. Pensava em como pouco ela havia mudado nesses últimos dez anos, em como era completamente encantado por aquela beldade, que sequer, olhava pra ele, em como os caminhos se seguiram desde que se viram (ou que ele a viu) pela última vez e como hoje as coisas não eram de modo algum como ele imaginava que seriam. Depois, começou a pensar se ela o reconheceria. Ajeitou os cabelos, deu aquela conferida no perfume e no cheiro da camisa. Foi quando deu por si que a respiração estava pesada.

Despertou dos seus pensamentos quando uma senhora, que estava atrás dele na fila, e se recusava a ir até o caixa preferencial, porque, segundo ela, ela não era velha, tocou em seu ombro dizendo:

- Comé que é? Vai andar?

Então deu um passo a frente. Ele era o próximo, pensou. Após dez anos, finalmente teria a chance de falar com ela. O que poderia dizer? Convidá-la para fazer algo após o expediente? Abrir o coração? Não sabia, só sabia que poderia finalmente falar com ela e que seria o próximo.

Chegou sua vez. Estava tão perdido em reflexões que a voz não saiu para responder o boa tarde que lhe fora dado. Ela, no automático, nem esperou resposta. Quando levantou a vista novamente, o reconheceu. O único som que ele escutava era o do leitor de código de barras reconhecendo os produtos. Ela o encarava, buscava um nome. O coração dele batia no ritmo do som da leitura dos códigos de barras. Na demora para ler um produto e outro, ele sentia que o coração não batia. Por fim, ela o olhou nos olhos. Ele se mortificou. Ela então disse:

- É crédito ou débito?
- Crédito, por favor. Ele respondeu.

E assim, ao sair do supermercado, tudo que ele pensava era na voz da moça do caixa dizendo "é débito ou crédito". 

E disse pra si mesmo:

- O jeito que ela me perguntou foi diferente. Certeza que sente algo por mim.

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