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Último Texto

Admiração

Admiro os poetas que escrevem, Com métricas, estrofes e rimas, Que fazem da caneta e do papel, Ferramentas de sua obra-prima. Admiro aqueles que ao lerem poesia, Respeitam a cadência, o sentimento, a melodia, Que apenas com o tom de voz, Eleva a beleza à nós. Admiro os que vivem a vida poeticamente, Que sabem com certeza o ser que são, Não são prisioneiros da mente, Quando chegada a hora, simplesmente vão. Admiro os que admitem  Que não sabem quem são, Pois se tornaram conscientes,  Da sua limitação. O que sou eu então, Se minhas rimas são bobas, Meus amores impossíveis, E se só sei o que não sou? Talvez eu seja isso: De toda uma vida, Um mero admirador.

Borboleta Branca

Deixei, por descuido, aberta, a janela do meu quarto e por ela entrou uma borboleta branca. Voou pelo quarto procurando, talvez, um galho para pousar e, não encontrando, achou por bem que deveria descansar no meu ombro. Num primeiro instante a olhei com incômodo, ora, como ousava ela fazer de mim um lugar qualquer!? Então o incômodo tornou-se contemplação. Era deveras bonita a borboleta, tão branquinha, tão delicada, que me vi tomando todo o cuidado para não me mexer e espantá-la. Exatamente como fazemos quando um gato escolhe nosso colo para dormir.

Depois de um tempo, enquanto ainda a olhava, comecei a refletir sobre meus objetivos, meus interesses, as resoluções que faria para o novo ano que se aproxima e quando dei por mim, já estava me questionando. Me questionava por que divulgo o que escrevo. Seria por dinheiro? Por aprovação e validação alheia? Fama? Reconhecimento? E tentando responder a essas perguntas, fui chegando a conclusão que não, não era nada disso. Todas essas coisas, claro, são bem vindas, mas não a razão de ser de eu escrever.

Se você, que me lê agora, tem algum tipo de inclinação artística, talvez se identifique com o porquê de, volta e meia, a gente compartilhar com as pessoas próximas, ou redes sociais que seja, os frutos de nossa arte. É tudo um grande desabafo. É colocar no papel aquilo que a gente não saberia expressar, ou até saberia, mas expressaria mal, com palavras. É tudo um grande aceno a nós mesmos. É expressar consigo e para si, os próprios medos, os desejos, os sonhos, as raivas, as tristezas e alegrias. Nem todo mundo entende, nem mesmo a gente entende. As coisas só são o que são.

Então a borboleta bateu asas e eu despertei das minhas divagações, do meu devaneio pseudo filosófico. Eu pensei tantas coisas e ao mesmo tempo não pensei em nada, concluí. Talvez ela tenha me despertado de um sono que só fazia sentido em um sonambulismo acordado, e tudo que, em sono, fazia sentido se perdeu.

Restou-me somente a sensação de que um dos nossos grandes pensadores contemporâneos tenha razão e a sua sugestão deva ser a todos nós aplicada, já que praticamos esse ato em algum grau. Cito-o abaixo:

"Se amar é crime, me prenda agora, me bota na cadeia!". Advogado Paloma.

E assim, saiu pela janela a borboleta branca, talvez em busca de um novo ombro onde ela pudesse despertar reflexões que realmente pudessem mudar o mundo, mesmo que esse mundo fosse apenas um indivíduo.

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