Ecoou pelos ares um som que todos ouviam, mas poucos entendiam a melodia a soar. Alguns, solitários, até se esforçavam, tentando escutar. A maioria ignorava, não queriam nem saber, "isso não é pra mim", era comum dizer.
Todos os dias, o som ia e vinha, mas quase ninguém com ele se entretinha. Até que alguém, tentando entender, foi procurando a origem conhecer.
Ouvindo o primeiro ruído, pôs-se atento, "de onde quer que venha, eu vou ficar sabendo". Seguiu rua acima, procurando instrumentos, mas tudo que ouvia era o som cinzento do cotidiano que saía das casas, das fábricas e apartamentos.
Mas ao fundo do som metálico, ouvia o ruído e seguindo por todo lado, parecendo um louco, desnorteado, seguia o homem, tentando e falhando, desvendar o mistério incessantemente.
"Pobre homem, enlouqueceu!", era o que diziam pela rua, quando passava correndo, a vã criatura. O olhar perdido, o andar cansado, a falta de sentido, nada o parava.
Até que saiu dos limites da cidade e olhando de longe, com incredulidade, viu uma moça, regendo uma orquestra, com muita habilidade.
A orquestra era só ela, por isso o som entrecortava, porque ela regia e também tocava. E de longe ainda incrédulo, o homem a olhava. Por quê tudo isso? Ele se perguntava.
Então ela o viu e parou constrangida, uma vez tocara enquanto alguém assistia, fizeram-na de chacota, enquanto outro ria.
"Eu não queria incomodar" gritou a moça, juntando os instrumentos o mais rápido numa bolsa. "Não me incomoda" gritou de volta o rapaz. "Ouvia suave, quase indistinto, o som melancólico, mas muito bonito".
Quis saber de onde vinha esse som que o encantava, que ninguém ouvia ou ignorava. "Eu sou o amor" disse a moça, emocionada, "há tempos remotos, ninguém me procurava".
"A vida que a gente leva, já não tem muito sentido, é tudo muito efêmero, quase nada tem valor, é preciso as levezas, que encantam aos ouvidos. Por favor minha doce moça, não nos deixe desprovidos, da riqueza mais valiosa e mais bonita, que é o som que faz o coração que ouve pelo amor tocada, a música mais bonita".
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