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Último Texto

Dignidade

Não sou digno que a felicidade sorria para mim. Perceba que eu disse que não sou digno e não sou merecedor. É que a felicidade é fim último de todos e todos, sem exceção a merece. Mas ser digno de felicidade é diferente. Só é digno da felicidade aquele que possui bravura. É aquele que não tem medo dos nãos e das portas fechadas. Aquele que cria as condições ou, pelo menos, tenta criar os meios de atingi-la.  A felicidade é passiva. Você quem deve ir atrás dela e não esperar que ela aconteça. A felicidade se constrói enquanto se vive, não é um estado de graça, que uma vez atingido, permanece. Ela é como a própria vida. Ela até paira por nós, mas só de fato vive àquele que escolhe os próprios caminhos.  Só é feliz quem vive. Só vive quem é feliz. Os demais, se contentam com a efêmera sensação de ser feliz, só porque, num dia de céu claro, um leve sorriso foi visto no espelho.

Um Som Que Só Se Houve Quando Quer

Ecoou pelos ares um som que todos ouviam, mas poucos entendiam a melodia a soar. Alguns, solitários, até se esforçavam, tentando escutar. A maioria ignorava, não queriam nem saber, "isso não é pra mim", era comum dizer.

Todos os dias, o som ia e vinha, mas quase ninguém com ele se entretinha. Até que alguém, tentando entender, foi procurando a origem conhecer. 

Ouvindo o primeiro ruído, pôs-se atento, "de onde quer que venha, eu vou ficar sabendo". Seguiu rua acima, procurando instrumentos, mas tudo que ouvia era o som cinzento do cotidiano que saía das casas, das fábricas e apartamentos.

Mas ao fundo do som metálico, ouvia o ruído e seguindo por todo lado, parecendo um louco, desnorteado, seguia o homem, tentando e falhando, desvendar o mistério incessantemente.

"Pobre homem, enlouqueceu!", era o que diziam pela rua, quando passava correndo, a vã criatura. O olhar perdido, o andar cansado, a falta de sentido, nada o parava.

Até que saiu dos limites da cidade e olhando de longe, com incredulidade, viu uma moça, regendo uma orquestra, com muita habilidade.

A orquestra era só ela, por isso o som entrecortava, porque ela regia e também tocava. E de longe ainda incrédulo, o homem a olhava. Por quê tudo isso? Ele se perguntava.

Então ela o viu e parou constrangida, uma vez tocara enquanto alguém assistia, fizeram-na de chacota, enquanto outro ria.

"Eu não queria incomodar" gritou a moça, juntando os instrumentos o mais rápido numa bolsa. "Não me incomoda" gritou de volta o rapaz. "Ouvia suave, quase indistinto, o som melancólico, mas muito bonito".

Quis saber de onde vinha esse som que o encantava, que ninguém ouvia ou ignorava. "Eu sou o amor" disse a moça, emocionada, "há tempos remotos, ninguém me procurava".

"A vida que a gente leva, já não tem muito sentido, é tudo muito efêmero, quase nada tem valor, é preciso as levezas, que encantam aos ouvidos. Por favor minha doce moça, não nos deixe desprovidos, da riqueza mais valiosa e mais bonita, que é o som que faz o coração que ouve pelo amor tocada, a música mais bonita". 

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