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Último Texto

Dignidade

Não sou digno que a felicidade sorria para mim. Perceba que eu disse que não sou digno e não sou merecedor. É que a felicidade é fim último de todos e todos, sem exceção a merece. Mas ser digno de felicidade é diferente. Só é digno da felicidade aquele que possui bravura. É aquele que não tem medo dos nãos e das portas fechadas. Aquele que cria as condições ou, pelo menos, tenta criar os meios de atingi-la.  A felicidade é passiva. Você quem deve ir atrás dela e não esperar que ela aconteça. A felicidade se constrói enquanto se vive, não é um estado de graça, que uma vez atingido, permanece. Ela é como a própria vida. Ela até paira por nós, mas só de fato vive àquele que escolhe os próprios caminhos.  Só é feliz quem vive. Só vive quem é feliz. Os demais, se contentam com a efêmera sensação de ser feliz, só porque, num dia de céu claro, um leve sorriso foi visto no espelho.

Sobre o Amor e o Tempo

Há um tempo não me dedico à escrita. Não sei se porque me inspiro apenas quando me encontro triste ou se não tenho refletido o bastante, a ponto de juntar as palavras de modo que eu me sinta emocionado, e assim, emocione alguém. Há em mim, como em todo ser humano, toda a gama de emoções, e essas emoções, são como um mar, em que as ondas vão e vem, se aquebrantando nas praias e rochedos que criam as barreiras para o mar. Às vezes,  é um conjunto de ondas boas, outras são ondas de tempestades, mas no fim, olhando para o mar, há sempre a beleza.

Talvez eu não esteja observando com afinco as outras pessoas. Delas também é possível tirar inspirações que podem tornar-se o remédio para um solidão ou um ponto de inflexão, capaz de mudar os rumos de uma vida inteira. Tenho a sensação de que as relações humanas, sinceras e diretas, sem rodeios, tem-se tornado cada vez mais raras. O mundo é muito veloz e relacionar-se verdadeiramente com alguém demanda tempo. Essa velocidade em se viver gera ansiedade, medo, e esses sentimentos acabam contribuindo ainda mais para que as relações não passem do raso.

Amar é como uma tarde no rio. Se você não sabe nadar ou não confia em todas as suas habilidades, se não conhece o solo e o comportamento das águas, você procura o raso, se é que se permite entrar na água. Com amor é a mesma coisa. Se você não sabe amar ou não confia nessa habilidade ou se receia e desconhece àquele que se ama, nunca amará profundamente. Amar sem apreensão - digo sem apreensão porque os medos existirão, sempre - requer que confiemos em nós mesmos e no outro. Significa que conhecemos nossas fraquezas e nossas fortalezas. Requer desprendimento de si mesmos, porque uma vez que se sabe quem se é, é possível ir ao encontro do outro, sem medo de perder a si mesmo.

Antes eu via o amor como um ato irracional, inexplicável, algo que surge e não se controla. Algo que te tira de si mesmo, te arrebata e te faz ver o mundo sob um olhar totalmente novo, geralmente de maneira positiva. Quando se ama, tudo é possível. Hoje vejo que o amor é uma escolha diária e consciente. É um exercício de se conhecer e de conhecer o outro. É exercitar a empatia, e muito mais que focar em si mesmo, saber ouvir as dores e os desejos alheios, mas sem se colocar como o salvador da pátria ou o responsável pela felicidade alheia. Amar é servir com limites.

Para amar com verdade e desprendimento, é preciso que se viva o presente, que se tenha perspectivas para o futuro, mas que esse futuro não seja imutável, mas adaptável aos novos "eus" e novos "nós" que vão surgindo, de acordo com o que se vive no agora. Amar é não morar no passado. Nem viver um futuro utópico. A cada novo amanhã, que quando chega se torna o novo agora, as intersecções vão se expandindo, ou até mesmo diminuindo, mas se solidificando de maneira que a gente se enxergue como um inteiro e essa partezinha compartilhada seja uma adição que nos transborde e não que nos completa, afinal, só se pode amar em verdade, quando tem dentro de si tudo que precisa para amar sem depender.

O amor precisa de tempo e o tempo no amor é relativo. Pode-se levar a vida inteira para se aprender a amar, pode-se amar aos quinze. Pode surgir amor em questão de dias, pode-se viver uma vida sem amar. O amor depende da entrega e não se pode saber com quanto tempo estaremos seguros de nós mesmos para nos entregar. Revelar nossas fragilidades e dificuldades sem nenhum medo de ser rechaçado. O amor e o tempo tem suas próprias regras e basta que nos submetamos sem ansiedade.

Todo esse texto talvez seja um lembrete pra mim mesmo de que devo me submeter ao exercício de paciência do tempo. De observar a mim mesmo e aos demais, aprender a me conectar, comigo e com o outro. Talvez, agora, refletindo com mais paciência, eu esteja amando a vida e aprendendo a amar todos aqueles que me rodeiam. E assim, quando eu estiver completo, sem receios e sem pressa, eu encontre o amor romântico.

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