As luzes da cidade se apagaram. A rede de energia não suportou o fluxo intenso de corrente elétrica. Fez-se necessário uma pausa, para restaurar as forças. Há meses não se via o céu iluminado. As luzes da cidade ofuscam as estrelas. A lua, sempre muito bonita, passa desapercebida e se entristece.
Sentei-me no banco da praça a fim de simplesmente olhar o céu. Era possível enxergar até as menores estrelas! O rastro de branco que ajudou a nomear nossa galáxia, ficava mais nítido com as luzes apagadas. Vê que estava no céu, em frente aos meus olhos não era suficiente, então me deitei no banco para enxergar a porção de céu que ficava sobre a minha cabeça. Se traçasse com os dedos, era possível formar imagens ligando as estrelas, um jeito todo individual de se criar constelações - ficava até aquele gostinho de infância, quando na creche ligávamos as bolinhas para formar uma figura.
Nem percebi que havia alguém, em pé, me observando. Me olhava com curiosidade, uma certa contemplação.
- Parece que sonha acordado enquanto olha o céu.
- Eu sonho acordado enquanto faço muitas coisas. Hoje, depois de meses, foi possível observar um céu estrelado, sem a poluição luminosa de todos os dias.
- Diferente - respondeu a moça que me olhava - o que vê?
- Com a dose certa de imaginação é possível ver qualquer coisa. Se seguir aquele conjunto de estrelas, é possível ver um mico.
- Realmente é preciso de uma dose de imaginação! Mas não deixa de ser verdade. Há tempos eu não me permito imaginar.
- Bem, adultos geralmente estão preocupados com outras coisas. Parar para imaginar é um grande pecado. A gente deveria aprender com as crianças. Vivem a realidade, mas tem um pezinho no mundo da lua... Ou das estrelas, no caso.
- É... Talvez a gente devesse se permitir ser criança de vez em quando. Como adulta tenho tudo que preciso, mas não me sinto completa. E esse simples ato de olhar pro céu me preencheu de alguma forma. Foi uma grata surpresa encontrar alguém disposto a deitar no banco da praça, de uma maneira um pouco ridícula, olhando o céu. Eu não faria isso e olha só: foi a melhor coisa que fiz em meses.
- Às vezes só precisamos nos permitir o ridículo para nos lembrarmos de quem somos e da criança que mora na gente né? A mente que trabalha o tempo todo se quebra, brincar de vez em quando não faz mal.
- É...
E foi assim, durante quinze minutos, que papeamos a respeito de um monte de nadas. Combustível suficiente para, naqueles momentos em que a vida pesa, pudéssemos nos recordar de que às vezes basta fechar os olhos ou olhar para o céu, para recarregarmos nossos corações cansados com um pouco de carinho.
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