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Último Texto

Dignidade

Não sou digno que a felicidade sorria para mim. Perceba que eu disse que não sou digno e não sou merecedor. É que a felicidade é fim último de todos e todos, sem exceção a merece. Mas ser digno de felicidade é diferente. Só é digno da felicidade aquele que possui bravura. É aquele que não tem medo dos nãos e das portas fechadas. Aquele que cria as condições ou, pelo menos, tenta criar os meios de atingi-la.  A felicidade é passiva. Você quem deve ir atrás dela e não esperar que ela aconteça. A felicidade se constrói enquanto se vive, não é um estado de graça, que uma vez atingido, permanece. Ela é como a própria vida. Ela até paira por nós, mas só de fato vive àquele que escolhe os próprios caminhos.  Só é feliz quem vive. Só vive quem é feliz. Os demais, se contentam com a efêmera sensação de ser feliz, só porque, num dia de céu claro, um leve sorriso foi visto no espelho.

Paixão

Paixão. Sentimento arrebatador, capaz até de alterar a química das sinapses neurais, fazendo que a percepção da realidade possa ser enviesada. O objeto da paixão torna-se perfeito, embora no fundo da mente ecoe que a perfeição é impossível de ser alcançada pelos reles mortais. A partir do ponto de vista do apaixonado, a paleta de cores do mundo se enriquece e o passarinho verde é visita constante no dia a dia. Aquela olhada nas notificações e o sorriso automático que vem aos lábios, o sinal universal que a paixão bateu a porta. O coração bate acelerado, a respiração ofega, as mãos gelam. A paixão é ansiosa? 

A maioria de nós experimentou esse sentimento, ainda bem jovem, durante a adolescência. Naquela época, a maioria das paixões eram secretas, aquele que desperta a paixão não pode nem sonhar que estamos apaixonados. Alguns de nós rompemos com esse paradigma e nos declaramos a quem "amamos" e então surge a primeira grande frustração da vida. E tá tudo bem. Faz parte. Mas ainda não estamos maduros o suficiente pra aceitar os "nãos" como respostas. Outros conseguem estabelecer relações com o objeto amado. Como é bom amar! É o que pensam aqueles que suprem o cérebro com a substância química da paixão. Como é tudo muito bom. Até que acaba. E dependendo de como acaba e quando acaba, apaixonar-se torna um problema. Traumatiza. Só mais velhos que entendemos que as paixões passam. Mas alguns vêem isso de maneira negativa. "Não posso me apaixonar, porque a paixão, o amor machuca. Não sou digno de ser amado. Apaixonar-se, pra quê?"

Ora, porque faz parte da vida. Faz parte de ser humano. Faz parte do convívio. Mas podemos nos apaixonar por coisas e situações, não somente por outras pessoas. Que tal nos apaixonarmos pela vida? Pelo nossos hobbies, pelos nossos trabalhos? Que tal nos apaixonarmos por nós mesmos? Já que isso nos ajuda a enxergar um mundo mais colorido, apesar das suas imperfeições completamente visíveis e expostas, talvez estarmos em estado de paixão nos ajude a viver melhor. E nem precisa de outro alguém. 

E assim, mergulhados nas inúmeras cores de uma aquarela apaixonante, a gente pode exibir a arte que somos e encantar um mundo inteiro de pessoas. E dentro desse encanto encontrar a paixão, mas não essa paixão que arrebata e vira tudo de pernas pro ar. Podemos encontrar aquela paixão que é o embrião de um amor desapegado e desinteressado. Um amor que colore a tela, mas não esconde suas imperfeições. Um amor que muitas vezes usa dessas imperfeições para criar algo único. Pintemos a beleza imperfeita de sermos humanos.

É. Talvez a paixão não seja tão ruim assim a ponto de nos afastarmos e a evitarmos de todo jeito possível. Vai dizer que não é boa a sensação de se estar apaixonado?

Comentários

  1. Uau! Que texto perfeito, terminei de lê com lágrimas nos olhos.

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