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Último Texto

Dignidade

Não sou digno que a felicidade sorria para mim. Perceba que eu disse que não sou digno e não sou merecedor. É que a felicidade é fim último de todos e todos, sem exceção a merece. Mas ser digno de felicidade é diferente. Só é digno da felicidade aquele que possui bravura. É aquele que não tem medo dos nãos e das portas fechadas. Aquele que cria as condições ou, pelo menos, tenta criar os meios de atingi-la.  A felicidade é passiva. Você quem deve ir atrás dela e não esperar que ela aconteça. A felicidade se constrói enquanto se vive, não é um estado de graça, que uma vez atingido, permanece. Ela é como a própria vida. Ela até paira por nós, mas só de fato vive àquele que escolhe os próprios caminhos.  Só é feliz quem vive. Só vive quem é feliz. Os demais, se contentam com a efêmera sensação de ser feliz, só porque, num dia de céu claro, um leve sorriso foi visto no espelho.

Por Que Escrevo?

Perguntaram-me certa vez por que escrevo. Na hora eu respondi que escrevia porque gostava de por no papel meus sentimentos. A pessoa se satisfez com essa resposta, mas ficou ecoando na minha cabeça a pergunta: por que escrevo?

Refleti vários dias a respeito do motivo. De início, era terapêutico. Era uma forma que eu tinha de abrir diálogo comigo mesmo e falar de mim pra mim mesmo, através das metáforas, através de alegorias. Era minha forma de conectar comigo mesmo. Não era fácil pensar o tempo inteiro e ainda assim não saber me expressar corretamente no dia a dia. Não era fácil eu me enxergar de verdade, quando eu só queria ser aquilo que eu acreditava que queriam que eu fosse.

Muitos anos se passaram desde as primeiras linhas que escrevi. Até que chegou de fato a época em que eu comecei a fazer terapia. Terapia mesmo, sabe? Dessas que muitas pessoas pensam que é coisa de maluco. Maluquice é não usufruir do potencial que se tem porque só você não acredita nele. Nesse ponto da vida, eu não escrevia simplesmente para apaziguar minha cabeça. Passou a ser também um propósito. Queria escrever um livro. Queria não, ainda quero. Mas já não é mais tão importante assim. Não ser publicado não faz de mim menos escritor.

Alguns, sabendo disso, me indagaram: "qual a razão?". Confesso que num primeiro momento, num ato de grandiloquência, queria entrar para história como um grande nome da literatura da língua portuguesa. Repare que não me limitei à literatura nacional. Quem sabe não seria eu o Machado de Assis do século XXI? Me autocomparo o tempo todo com o bom humor machadino, com um toque da poesia em prosa de Fernando Pessoa. Se realmente consigo fazer essa mistura, aí já são outros quinhentos.

Depois, concluí que entrar pra história é mera consequência, só a posteridade, se é que meus textos sobreviverão, vai dizer. A razão pela qual eu gostaria de publicar era impactar o mundo. Como e com o quê? Bem, ainda não sei. Esse objetivo ainda soava grande demais aos meus ouvidos. Não que eu não queira impactar o mundo. Mas que isso também seja consequência,  não fim.

Você que me acompanha deve estar se perguntando: "como quer mudar o mundo, se publica num perfil fechado?" - se é que alguém se pergunta alguma coisa enquanto me lê - e eu respondo: você tem toda razão. 

Eu gostaria de reviver o prazer da leitura nas pessoas que me cercam. Instigar, seja pelo que escrevo ou pelo que leio, uma faisquinha de interesse na literatura naquelas pessoas que eu alcanço. Quero que as pessoas troquem livros entre si, debatam sobre ideias divergentes, tenham repertório de diálogos. Quero que sintam dentro de si o que sinto aqui dentro de mim: uma imensidão intensa de coisas a serem feitas, ao contrário do vazio existencial que temos presenciado. 

E quando todos estiverem submersos na literatura, que as vendas de livros baterem recordes, que a sociedade esteja mergulhada em conhecimento e nos benefícios que ele traz, eu me tornar best-seller do The New York Times.

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