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Dignidade

Não sou digno que a felicidade sorria para mim. Perceba que eu disse que não sou digno e não sou merecedor. É que a felicidade é fim último de todos e todos, sem exceção a merece. Mas ser digno de felicidade é diferente. Só é digno da felicidade aquele que possui bravura. É aquele que não tem medo dos nãos e das portas fechadas. Aquele que cria as condições ou, pelo menos, tenta criar os meios de atingi-la.  A felicidade é passiva. Você quem deve ir atrás dela e não esperar que ela aconteça. A felicidade se constrói enquanto se vive, não é um estado de graça, que uma vez atingido, permanece. Ela é como a própria vida. Ela até paira por nós, mas só de fato vive àquele que escolhe os próprios caminhos.  Só é feliz quem vive. Só vive quem é feliz. Os demais, se contentam com a efêmera sensação de ser feliz, só porque, num dia de céu claro, um leve sorriso foi visto no espelho.

(Re)Descobertas

As Américas sempre estiveram aqui. Desde que o mundo é mundo. Seja como parte da Pangeia ou o bloco de terra a oeste da Europa. Inclusive, antes da chegada dos europeus, já era povoada. Era um "mundo" em si. Vivo, pulsante, vibrante.

Então, quando os europeus chegam aqui, no final do século XV e chamam de descoberta, na verdade significa redescoberta, afinal de contas, antes das "descobertas" proporcionadas pelas grandes navegações, os vikings, que também vieram da Europa, já haviam estado aqui e muito provavelmente conviveram, talvez, com certa pacificidade com os povos que aqui já estavam.

Inclusive, aqui mesmo, nas terras americanas já haviam impérios, que exerciam suas políticas e suas relações entre si e os demais povos, que seja como estivessem organizados, conviviam com os conterrâneos "mais organizados" politicamente. A América só era um "novo mundo" para os recém chegados.

Isso tudo só pra dizer que se entregar a uma nova oportunidade de se relacionar com alguém é, em sua proporção, como "descobrir" um novo mundo que já existe. Primeiro que já existe em nós uma gama de sentimentos que sempre estiveram ali, independente de possuir ou não um relacionamento. Depois, assim como a chegada dos vikings, o primeiro relacionamento deixa suas marcas, seus vestígios, que podem variar desde "sentimentos bárbaros" (Vikings na Europa) a "sentimentos brandos" (vikings nas Américas). E então temos o relacionamento que surge após uma má experiência anterior ou desilusão muito forte. Esse é o que se iguala a chegada dos Europeus no século XV.

Após uma desilusão grandiosa, quando surge um novo alguém, ele pisa em terras desconhecidas, porém já visitadas antes. Para esse novo alguém, somos um novo mundo. E nesse novo mundo pode existir qualquer coisa. Pode estar habitado por povos bárbaros ou por pacíficos. Pode ter menos recursos ou pode ser ainda mais preparado que o novo visitante. Não é nada de outro mundo, mas ainda assim completamente diferente de tudo aquilo que se conhece.

Entregar-se a uma nova chance de conhecer alguém é como o encontro de dois povos que existem por si só, mas nunca coexistiram no mesmo espaço. Pode trazer o desenvolvimento para ambos ou tornar-se uma guerra. Pode levantar barreiras ou gerar revoluções que transformarão para sempre a vida das nações. Mas acima de tudo isso, é um choque de culturas. E quando dois povos desconhecidos se encontram, o primeiro sentimento que sobressai aos demais é o temor. Nada mais natural do que temer o desconhecido, mesmo que o desconhecido desperte curiosidade, anseio por estabelecer contato.

O medo pode nos tornar cautelosos demais, a ponto de fecharmos nossas fronteiras e se ensimesmar, mesmo que não sejamos autosuficientes em suprir nossas necessidades. Ou ainda pode tornarmos intolerantes e sempre alerta, atacando, no menor sinal de perigo, guerreando contra o inimigo.

O medo é protetor, mas quero, assim como os desbravadores, a coragem para conhecer o outro, o novo. Intercambiar histórias e recursos, crescer em paz e em colaboração. Ser diplomata. Não impor nada nem ser imposto. Saber o equilíbrio entre a soberania do eu e a condução do nós. E assim, criar laços que possam frutificar em relações duradouras entre nações que se acolheram para a construção de um mundo e uma história conjuntas.

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