Ouvimos por aí uma grande quantidade de pessoas que dizem preferir o amargor de uma verdade do que o doce de uma mentira, mas na prática, nas ações, não é bem isso que se demonstra.
Uma boa parte de nós, quando nos deparamos com uma amarga verdade, tendemos a tentar justificar, ou até mesmo, culpar outras pessoas e situações, e não nós mesmos, pelas próprias ações que praticamos.
Se me perguntarem agora o que penso sobre alguém e eu responder com a mais amorosa sinceridade, e eu destacar qualidades e defeitos do meu interlocutor, muito provavelmente o mesmo se prenderá aos defeitos, e dependendo da profundidade do que for dito, mesmo que de maneira suavizada, muito provavelmente, a chateação tomará conta de meu ouvinte.
Reconhecer em alguém algo ruim não necessariamente significa que não apreciamos a pessoa em seu todo. Claro, algumas coisas podem incomodar, mas não necessariamente são motivos suficiente para invalidar toda uma construção complexa que, em grande parte, mais agrada que desagrada. Ainda assim, muitos de nós, quando defrontados por uma crítica, tendemos a diminuir a afeição por aquele que nos apontou a "falha". É como se fossemos reduzidos ao fracasso, mesmo que em muitos casos, o tal defeito, seja coisa simplória.
"Estou chateado com fulano, porque um dia, enquanto conversávamos a respeito da vida, ele me disse algo sobre mim que eu não gostei. Achei que ele fosse meu amigo."
Se eu me deparo com seus defeitos e mesmo assim me afeiçoou, não seria essa uma afeição sincera e desinteressada? Nós, como seres humanos, ao longo da vida iremos nos decepcionar com comportamentos e pensamentos de pessoas com os quais nos sentimos próximos, e isso não quer dizer que essas pessoas não se importam ou que elas não podem ser capazes de mudarem, para que, na medida do possível, os incômodos e deslizes se minimizem.
Alguns dos nossos "defeitos" são meros comportamentos aprendidos para nos defendermos das dores que o passado nos infligiu. Nem todo mundo tem consciência de si. Não poderia então, os amigos mais próximos, na medida do possível e com as ferramentas que possuem, ajudar a nós olharmos para nós? Nesse caso, o amargo da verdade se tornaria doce, pois permitiria que, pouco a pouco e delicamente, tornemo-nos capazes de ter consciência de nós mesmos.
E aí, você realmente prefere o amargo de uma verdade ou só quer o afago delicado de uma meia-verdade que não incomoda o ego?
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