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Dignidade

Não sou digno que a felicidade sorria para mim. Perceba que eu disse que não sou digno e não sou merecedor. É que a felicidade é fim último de todos e todos, sem exceção a merece. Mas ser digno de felicidade é diferente. Só é digno da felicidade aquele que possui bravura. É aquele que não tem medo dos nãos e das portas fechadas. Aquele que cria as condições ou, pelo menos, tenta criar os meios de atingi-la.  A felicidade é passiva. Você quem deve ir atrás dela e não esperar que ela aconteça. A felicidade se constrói enquanto se vive, não é um estado de graça, que uma vez atingido, permanece. Ela é como a própria vida. Ela até paira por nós, mas só de fato vive àquele que escolhe os próprios caminhos.  Só é feliz quem vive. Só vive quem é feliz. Os demais, se contentam com a efêmera sensação de ser feliz, só porque, num dia de céu claro, um leve sorriso foi visto no espelho.

Um Fim de Verão Qualquer

Era uma tarde de março, fim de verão, quando o céu de fim de tarde é uma mistura brilhante de tons alaranjados e roxo, lembrando a sensação melancólica do farfalhar das árvores, quando perdem as folhas, no outono. Havíamos, sem motivo aparente, caminhado a esmo, simplesmente batendo um papo que variava entre nada e comentários despreocupados sobre filmes, séries e músicas. Contrastando com o céu, ela vestia algo com um tom esbranquiçado, que fazia com que ela se destacasse muito da paisagem ao fundo. E entre toda aquela ausência de vida, lá estava ela reluzindo seu melhor sorriso. Parecia que eu era o câmera que enquadrava a mais linda filmografia que qualquer outro filme jamais vira. Mesmo que eu fosse o mais desapegado dos seres, era impossível não me apaixonar por aquela visão.

Mas nem tudo são flores. Naquele mesmo dia, mais tarde, ela disse: "você é demais para mim. Não sou capaz de te oferecer tudo que me tem dado e me sinto péssima por não conseguir ser um terço de tudo que você é. Não é fácil o que eu tenho a dizer, mas a gente precisa se separar. Eu não quero mais me sentir mal por não ser boa o suficiente. Você merece encontrar alguém que te dará tudo que você sempre quis e esse alguém não sou eu".

E foi assim que eu descobri que, no mundo atual, o normal e confortável é entregar muito pouco, migalhas, para que quem recebe se mantenha na zona de conforto de amar com ressalvas. Ora, por que aprender a lidar com as entregas sentimentais dadas de livre e espontânea vontade, sem imposições e cobranças, se posso somente receber o básico, aquele que mal supre as minhas necessidades e ter que insistir e implorar pelo mínimo? Ter que fazer malabarismos sentimentais para ser notado, apertar o peito e sorrir com esforço, para criar a ilusão de que está tudo bem. 

Que fique nos livros, nos filmes, nas músicas esses sentimentalismos irreais (apesar de existirem), os clichês (que são a base das relações que duram), os gestos exagerados (que vez ou outra são bem vindos em muitos contextos), já que, quando se experimenta algo que se aproxime ligeiramente disso, eu vou fugir pra bem longe, porque tudo isso é demais para mim e o autor(a) destes gestos merecem muito mais do que eu posso oferecer, porque sequer tentar fazer algo que se aproxime a qualquer coisa, é demais pra mim. E assim, morre um pouco todo dia, o amor espontâneo e desinteressado.

Comentários

  1. "Seu mundo fantástico empalidece, seus sonhos desbotam, murcham, como folhas amareladas que caem das árvores… Ah! Nástienka! Será triste ficar sozinho, completamente sozinho, e até não ter do que se lamentar, nada, rigorosamente nada… porque tudo se perdeu, tudo era nada, um zero redondo e tolo, e não passou de um sonho!" Noites Brancas, de Fiódor Dostoiévski.

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