Uma Vida Hipotética

Eu preciso lutar pela sua atenção, o que é um grande sinal de que eu deveria simplesmente deixar pra lá. Você conhece boa parte de quem eu sou e de como penso, e ainda assim as suas preferências são distintas do caminho que eu sigo. Eu deveria simplesmente deixar pra lá, seria melhor do que arcar com o peso de ter que esperar que as coisas se alinhem. Eu sei muito bem o que quero e o que espero do meu futuro. Se não estou 100% alinhado com isso, é simplesmente pelo fato de que sou humano e nem tudo às vezes é simples de decidir e fazer. Talvez eu devesse simplesmente cortar todos os laços, que talvez, possam estar me prendendo a ideia de que, um dia, você irá me enxergar como objeto de desejo. Acho que não seria algo doloroso pra mim, uma vez que não temos nada tão profundo e contínuo que possa gerar saudade. Ficaria comigo apenas aquele eterno "e se". A vida não é feita de hipóteses. Ela é um aglomerado de ações realizadas, tenham sido essas ações bem embasadas ou impulsionadas sem a mínima reflexão necessária. A vida é um amontoado de concretudes, que volta e meia podem estar sendo influenciadas por hipóteses. Sem ação não há vida. Sem reflexão há ações mal decididas. E assim temos uma vida hipotética, concreta, mas infundada. Se eu abrisse mão de todas as convicções que possuo, iriam embora junto com elas as suposições que faço baseado em achismos concretos? Acho que só devo deixá-la pra lá. Muito provavelmente iria te incomodar no início, porque algum valor tenho pra ti, afinal de contas, volta e meia me procura. Depois seríamos dois estranhos sem contato, ao invés de sermos meio estranhos com contato. E assim, talvez pela primeira vez, ter me conhecido terá alguma importância concreta e real na sua vida. Porque muito provavelmente, quando não puder ouvir mais a minha voz, ecoará na suas ideias todos os conselhos e relatos que fiz, com a intenção que, um dia, você me notasse.