Quando estamos em viagem, por mais que possa ser o mesmo local que a gente sempre visite, sempre uma nova experiência é adicionada em nossa bagagem. Independente de como a viagem seja feita, sempre haverá um conjunto de acontecimentos que será único e, muitas vezes, memorável. Pode ser aquela experiência de estar numa viagem de ônibus com um tagarela sentado no banco de trás ou um motorista de Uber que incorpora o guia turístico (ou comentarista político da cidade) e aí você tem diversas novas informações que você nem queria ter.
Nos últimos dias voltei de viagem. Pela primeira vez saí do estado. Fui conhecer o mar. Quando fazemos algumas coisas pela primeira vez, vamos com algumas informações que coletamos em pesquisas, vídeos na internet ou de alguma outra pessoa que já tenha visitado o local. Junto da bagagem, levamos uma série de expectativas, algumas vezes, estereótipos e ideias. Uma das pessoas que me acompanhavam nessa viagem era o meu pai, que inúmeras vezes já havia visitado a cidade. A cidade era Recife, esqueci de citar essa informação. Prosseguindo, como meu pai já havia visitado a cidade, ele era o guia e iria nos mostrar os locais, falar sobre o que conhecia e dar as dicas sobre o que fazer.
Bem, a maioria dos que me lerem, provavelmente não conhece meu pai então já adianto que a coisa que ele mais faz é caminhar. E como não podia ser diferente, em Recife, caminhamos. Na orla da praia, em direção a cidade velha, na ponte que separa o rio do mar, sempre que era possível estávamos caminhando e nessas caminhadas, falamos sobre diversos assuntos. Falamos sobre os planos para os dias que ficaríamos na cidade, falamos sobre a cidade, falamos sobre a história e falamos sobre nada. Em algumas dessas caminhadas apenas ficávamos calados, contemplando o trânsito, a praia, a história, as diferenças, as pessoas. O silêncio falava bastante.
Em uma dessas caminhadas, dessa vez em direção ao "Recife Velho", ele comentou que numa viagem anterior, junto com uma namorada, eles caminharam de Recife a Olinda. Dezesseis quilômetros de caminhada. Para o meu pai, apesar de longa e cansativa, a caminhada era só mais uma das muitas loucuras que ele gosta de fazer. Para a namorada que o acompanhava, que não era muito de caminhar, era um gesto simbólico do sentimento que ela possuía por ele. Não importava se seriam dois ou dezesseis quilômetros, o importante era fazer algo que ele queria e gostava e estar com ele. Dezesseis quilômetros. E assim ele me disse:
- Olha o que o amor não faz, ein, meu filho? Caminhou dezesseis quilômetros só porque gostava de mim.
Parece que ela gostava bastante. Para quem não gosta ou não tem o hábito de caminhar, é muito chão. E fiquei pensando comigo, que, ao longo das minhas experiências, dos meus romances, ninguém me amou dezesseis quilômetros. Acho que não, talvez tenham me amado uma quilometragem confortável, percorrida de automóvel e não a pé.
Só sei que eu quero amar dezesseis, vinte, duzentos, milhares de quilômetros. Do Ouiapoque ao Chuí. Ou amar anos-luz. O importante é que o caminho só finde nos fins dos tempos e por motivos naturais. Mas e você: já amou dezesseis quilômetros?
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