Às vezes a gente deita na cama e as vozes na nossa cabeça insistem em não se calar. Sussurram, bradam, gritam, cantam, choram e travam diálogos intermináveis, dizendo o quanto a vida é cruel, que nada vai dá certo, que não há nada no mundo reservado para nós, que somos fracassados.
O problema dessas vozes é que elas são inúmeras versões de nós, o que nos leva ao segundo problema: somos narradores não confiáveis. Não somos confiáveis porque, na maior parte das vezes, não queremos ser os responsáveis pelos nossos fracassos ou por nossa apatia. Somos vítimas de um mundo babaca, com pessoas babacas, que nos tratam com babaquice. Somos resultados de traumas que não se curaram ou do luto por alguém que se foi.
Nas histórias que contamos, quase nunca somos os vilões.
A vilania a qual me refiro não é fazer mal a outras pessoas. Mas sim a nós mesmos.
E por que não somos os vilões?
Quando estamos tristes, deprimidos, chateados, com raiva, traumatizados, ou mesmo quando estamos felizes, tendemos a ver o mundo com o filtro daquele sentimento que está proeminente em nós.
Se fico feliz, não estou feliz como resultado das minhas próprias decisões e atitudes, se alguém pergunta, a gente prontamente responde:
"Hoje o dia tá bonito", "fulano me deu um presente", "finalmente eu passei no vestibular e meus pais vão ficar super contentes", "meu chefe me deu um aumento".
Quase nunca a gente diz: estou feliz porque, no momento atual, sou quem eu queria ser e estou onde queria estar.
Se estamos tristes, a tendência é maximizar as chateações e defeitos e minimizar as conquistas. Pra onde olha só vê sofrimento e desgraça.
Algumas pessoas estão deprimidas, estas, ao invés de julgarmos, precisamos apoiar e formar uma rede de apoio que a faça retomar o ânimo (com ajuda de profissionais, melhor ainda).
Mas aquelas que escolhem se entregar a tristeza porque a vida já foi cruel demais e sequer pensar em felicidade é uma grande piada, aaaah, estas tem que apanhar.
Não porque merecem sofrer, mas pra vê se acordam para o fato de quem faz a sua vida andar e ser minimamente, pelo menos, como você imaginou, é você.
Àqueles que perderam pessoas importantes, devem passar pelo processo de luto, sem queimar etapas, sem fugir da dor da perda, sem fingir que é forte. Tá tudo bem chorar. Enfrente o processo, passe pela dor, se fragilize para se fortalecer. Uma vez superado o luto, terá forças pra fazer do restante da sua vida uma homenagem a quem se foi e um orgulho aos que ficaram. Tem pessoas que perdem uma pessoa, mas mata em vida as que ficaram.
Usei o luto como referência porque talvez seja a dor paralisante mais comum que exista, mas imagino que deva servir para outras tristezas paralisantes.
De modo algum tenho a intenção de minimizar o sentimento de alguém. Muito pelo contrário, gostaria que essas palavras fossem catalisadoras de uma força que move.
As suas dores só você que sente.
Só quero dizer que, talvez, só talvez, se tentar tirar um pouquinho o filtro da tristeza dos olhos e olhar pra si mesmo com mais amor e admiração, como se você fosse uma outra pessoa, só talvez, seja possível ver uma pequena fagulha de alegria no fim do túnel.
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