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Último Texto

Dignidade

Não sou digno que a felicidade sorria para mim. Perceba que eu disse que não sou digno e não sou merecedor. É que a felicidade é fim último de todos e todos, sem exceção a merece. Mas ser digno de felicidade é diferente. Só é digno da felicidade aquele que possui bravura. É aquele que não tem medo dos nãos e das portas fechadas. Aquele que cria as condições ou, pelo menos, tenta criar os meios de atingi-la.  A felicidade é passiva. Você quem deve ir atrás dela e não esperar que ela aconteça. A felicidade se constrói enquanto se vive, não é um estado de graça, que uma vez atingido, permanece. Ela é como a própria vida. Ela até paira por nós, mas só de fato vive àquele que escolhe os próprios caminhos.  Só é feliz quem vive. Só vive quem é feliz. Os demais, se contentam com a efêmera sensação de ser feliz, só porque, num dia de céu claro, um leve sorriso foi visto no espelho.

Literatura

Deparo-me com a tela em branco. Os pensamentos vão dando voltas, analisando o que está ao redor, buscando lembranças, remexendo em sentimentos, em busca de, quem sabe, algo interessante a ser dito. Melhor! Em busca de algo interessante a ser lido por outrem. 


Escrevo, escrevo, escrevo. E assim que termino de escrever, apago. Na cabeça, os pensamentos que estavam todos embaralhados a procura do que dizer, agora se questiona: É isso que tem a dizer? 

 

O que os grandes autores da história da literatura queriam quando escreveram suas obras aclamadas e celebradas por todo o mundo? Queriam nos deixar uma mensagem? Ensinar uma lição? Promover revoluções ou contestar a sua realidade? 


Talvez quisessem apenas tirar de si mesmo a revolução de pensamentos. Transferir da cabeça para o papel, de modo que as ideias não os perturbassem mais. Talvez dialogavam consigo mesmo sobre aquilo que escrevia. Debatendo, brigando, lutando por ideias suas, gritando silenciosamente para que então, ele pudesse se calar e viver. 


Os clássicos marcam sua época e transcendem seus tempos. Geram milhares de estudiosos da literatura que debatem os sentidos e significados das obras. Polemizam, divergem, criticam, afirmam categoricamente e iluminam as obras. Seriam suas conclusões o verdadeiro objetivo do autor ao escrevê-las? Talvez nem o próprio autor o saiba dizer. Afinal, objetivos mudam e a pessoa quem escrevia não é mais a mesma quando a obra é publicada. 


Mas o que quero eu ao fazer tais questionamentos? Teria eu a pretensão de me tornar um autor clássico? Teria eu a ideia de equiparar-me aos grandes autores da história da humanidade? Teria eu a ousadia de querer ser lembrado por aquilo que pensam que eu fui baseado no que escrevi? 


O fato é que vivemos em tempos que favorecem a literatura. Não porque há uma infinidade de leitores ávidos por consumir literatura. Talvez o tenha, num grau que eu, baseado em minha vivência, acredite não ser o ideal para o desenvolvimento de uma sociedade. Mas porque a nossa realidade tem sido tão cruel e avassaladora, que na primeira oportunidade em fugir para mundos que não existem e histórias que não serão vividas, a gente se agarra e se prende. 


Talvez tenha sido sempre assim. Em todos os tempos da história humana, mesmo antes do surgimento da escrita, os seres humanos sempre tiveram uma realidade dura e desgastante, e sempre procuraram maneiras de fugir dessa realidade. As pinturas rupestres talvez nem estivessem retratando o dia a dia dos povos antigos. Estavam contando nas paredes as histórias que se passavam em sua mente. 


Os gênios da literatura souberam traduzir em ficção suas realidades tórridas, seus pensamentos revolucionários, suas críticas e seus desejos. Provocaram reflexões, discussões. Influenciaram pessoas e, direta ou indiretamente, mudaram a sociedade. 


E o que quero eu ao escrever o que escrevo, você deve estar se perguntando. E sendo bem sincero com você que leu até aqui, a única coisa que eu quero e quero muito, é tomar um café enquanto penso em que escrever, olhando para a tela em branco. 

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