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Último Texto

Dignidade

Não sou digno que a felicidade sorria para mim. Perceba que eu disse que não sou digno e não sou merecedor. É que a felicidade é fim último de todos e todos, sem exceção a merece. Mas ser digno de felicidade é diferente. Só é digno da felicidade aquele que possui bravura. É aquele que não tem medo dos nãos e das portas fechadas. Aquele que cria as condições ou, pelo menos, tenta criar os meios de atingi-la.  A felicidade é passiva. Você quem deve ir atrás dela e não esperar que ela aconteça. A felicidade se constrói enquanto se vive, não é um estado de graça, que uma vez atingido, permanece. Ela é como a própria vida. Ela até paira por nós, mas só de fato vive àquele que escolhe os próprios caminhos.  Só é feliz quem vive. Só vive quem é feliz. Os demais, se contentam com a efêmera sensação de ser feliz, só porque, num dia de céu claro, um leve sorriso foi visto no espelho.

Os Pássaros e Eu

Acordei no melhor estado de espírito que se pode acordar: desperto. Não aqueles despertares sonolentos e ranzinzas, que é hábito comum da maioria dos seres humanos. Pelo menos na minha concepção do que é comum ao ser humano. Antes dos pássaros, já estava eu cantando. Na certa, em um dos galhos da árvore que me serve de sombra e assombro, ao lado da minha janela, algum passarinho colocava suas asas sobre aquilo que seria o ouvido dele, porque como mau ornitólogo que sou, não faço ideia de como é a anatomia da cabeça de um pássaro. O importante é que entendas que, assim como eu fico irritadiço com os pássaros às cinco horas da manhã, quando cantam não sei porquê, eu agora os irritava cantando sem razão.

Eu e os pássaros temos uma relação de amor e ódio. Eu os odeio quando piam nas madrugadas, que aos fins de semana se estendem até às onze da manhã e eles me odeiam após o pôr do sol, afinal, repousam enquanto eu canto para irritá-los. Os amo quando, já desperto e de bem com a vida, observo-os voar e cantar, como se estivessem sempre a viver em um musical, a canção, alternada com os malabarismos dos vôos, fazem dos dias, quando é possível observá-los, muito mais alegre e inspiradores. Não à toa, criaram um ditado popular que associam os pássaros a alegria: "Parece até que viu um passarinho verde". E eu sei que eles me amam, já que sempre pousam na janela e observam enquanto arrumo meus livros ou fito o nada pensando em tudo.

Somos tão amigos, os pássaros e eu, que volta e meia, a título de pegadinha, defecam sobre mim, e lembrando ao caro leitor, excelente ornitólogo que sou, é possível observar em seu bico e em seu som que estão rindo, a zombar. Uma vez eu tive a nítida sensação que o pássaro dizia: "Deixe seu like no BirdTube". Em contrapartida, volta e meia, assim que um pássaro entra em casa, fecho a porta e cortinas, e vejo o pássaro procurando uma saída, confundindo às vezes, os vidros com as saídas. Depois abro novamente e jogo alguns grãos de arroz para recompensá-los pelo entretenimento que me proporcionaram. 

Caro leitor, eu gostaria de estender todos esse amor a todos os pássaros, mas infelizmente não me será possível. Não me será possível porque eu não suporto um pássaro que mora na casa ao lado. Esse pássaro, nada mais, nada menos, é o peru do vizinho. E eu sei que você deu uma risadinha de canto de boca com um pensamento perverso a respeito dessa fala, caro leitor. Esse pássaro é simplesmente insuportável. Entre rasantes e "glu glus", esse bicho não sossega um segundo. E ainda é intrometido. Você fala algo que ele escuta e ele te responde, como se você tivesse falado com ele. "Glu glu glu glu". Eu só entendo ele dizendo: "Como odeio ser um peru". Imagina a dor do coitado, é uma mistura de pavão com urubu.

E assim, seguimos os pássaros e eu. "Glu glu glu".


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