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Último Texto

Dignidade

Não sou digno que a felicidade sorria para mim. Perceba que eu disse que não sou digno e não sou merecedor. É que a felicidade é fim último de todos e todos, sem exceção a merece. Mas ser digno de felicidade é diferente. Só é digno da felicidade aquele que possui bravura. É aquele que não tem medo dos nãos e das portas fechadas. Aquele que cria as condições ou, pelo menos, tenta criar os meios de atingi-la.  A felicidade é passiva. Você quem deve ir atrás dela e não esperar que ela aconteça. A felicidade se constrói enquanto se vive, não é um estado de graça, que uma vez atingido, permanece. Ela é como a própria vida. Ela até paira por nós, mas só de fato vive àquele que escolhe os próprios caminhos.  Só é feliz quem vive. Só vive quem é feliz. Os demais, se contentam com a efêmera sensação de ser feliz, só porque, num dia de céu claro, um leve sorriso foi visto no espelho.

Unicolor

    Cinco e alguma coisa da manhã. Os primeiros raios de sol começam a entrar pela janela. Segunda-feira, dia útil, dia de produzir, porém a motivação parece ainda estar dormindo. Viro para o outro lado da cama, evitando a janela, na vã tentativa de evitar também a claridade que começa a tomar conta do quarto. Seis horas. De tanto insistir, pego novamente no sono, contando que o despertador, dali a uma hora, fará seu trabalho de me despertar, e junto, trazer a disposição e motivação que me faltaram.
    Às sete horas o celular desperta a primeira vez. É o marcador que chegou a hora de me arrumar para o trabalho, mas ao invés de levantar, viro novamente para o lado da janela. Na cabeça, uma retrospectiva do que aconteceu no dia anterior, na semana anterior. Lembro-me então de sentimentos, frases ditas, piadas ouvidas, vontades reprimidas e discussões que, num primeiro momento, pareciam inúteis, mas que agora, olhando com racionalidade, enriqueceram de alguma maneira algum aspecto da vida.
    As frustrações que se deram nos últimos dias, agora, com calma, são revistas sob a ótica mais racional. Filtradas pelos mecanismos de entendimento que outrora eu nem imaginava que eu poderia possuir. Não há, desta vez, a procura por culpados ou a busca por defeitos em mim mesmo, apenas a compreensão de que nem tudo será como a gente quer ou espera que seja, e que apesar disso, ainda assim podemos escolher lamentar ou aprender.
    Nesse ponto, já estou vestido. Devido a um compromisso pós expediente, não estou de uniforme. Ao olhar no espelho, não me sinto a pessoa mais bela do mundo, como ultimamente eu me sentia ao olhar para o espelho. O relógio marca sete e meia da manhã. Já é hora de sair. Pego a bicicleta e me coloco a caminho do trabalho. Assim que viro a esquina, me dou conta do tom monocromático das minhas vestes. Estaria eu num estado de ânimo que contrasta com o belo dia de sol, porém frio, que se faz hoje?
    Talvez seja a monotonia das segundas-feiras que acordam em nós antes que nos despertemos. Talvez seja alguma apatia não identificada. Talvez seja reflexo de um acúmulo de dias que o meu interior estivesse sendo ignorado. Talvez seja apenas mera coincidência. Dessa vez, não é o dia que está cinza, unicolor, monocromático. Hoje sou eu quem está cinza.

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