Obras do Acaso

Então chegará o dia em que ao entrar pela porta, não a verei. Hoje ao descer as escadas e vê-la em minha frente, por alguns segundos meu coração parou. Seria essa a última vez que a veria?

Eu sempre ficava a espera dos dias úteis e dos horários em que eu poderia falar com você. Me era sempre empolgante descer as escadas e, com os olhos, procurar seu sorriso ou seu rosto. Sempre soou como música no meu ouvido, o som da sua gargalhada. Era sempre uma alegria ouvir.

Mas chegará o dia em que tudo isso será apenas lembrança. E não é porque a morte veio lhe tomar de mim, é obra do acaso. Por um acaso calhou de nascermos em lugares distantes. Por um acaso, encantaram-lhe o coração e por um acaso, veio parar aqui.

Por um acaso nos pusemos a conversar e por um acaso, de imediato, houve conexão. Por um conjunto de acasos, encantamo-nos e por um acaso, encafifamo-nos.

E por causa dessas obras do acaso, as cores do pôr do sol não serão mais tão coloridas, a comida não terá o mesmo sabor e o sorriso não será tão completamente alegre como deveria.

Por um acaso meu coração perde hoje um pouco do ritmo que ele readquiriu quando você me sorriu.

Pelos ca(s)os e acasos  da vida, nossos caminhos se separam e esse que talvez tenha sido o sentimento mais puro e mais gostoso que já senti, acaba num prolongado "e se tudo tivesse sido diferente?".

Essas mesmas obras do acaso farão de ti a mais especial das experiências que vivi. Farão com que você seja sempre feliz, apesar dos percalços. Fará com que nossos caminhos, quem sabe, se esbarrem num novo desenrolar de acasos e as nossas vidas se entrelacem na maior obra-prima que o acaso realizou.