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Último Texto

Dignidade

Não sou digno que a felicidade sorria para mim. Perceba que eu disse que não sou digno e não sou merecedor. É que a felicidade é fim último de todos e todos, sem exceção a merece. Mas ser digno de felicidade é diferente. Só é digno da felicidade aquele que possui bravura. É aquele que não tem medo dos nãos e das portas fechadas. Aquele que cria as condições ou, pelo menos, tenta criar os meios de atingi-la.  A felicidade é passiva. Você quem deve ir atrás dela e não esperar que ela aconteça. A felicidade se constrói enquanto se vive, não é um estado de graça, que uma vez atingido, permanece. Ela é como a própria vida. Ela até paira por nós, mas só de fato vive àquele que escolhe os próprios caminhos.  Só é feliz quem vive. Só vive quem é feliz. Os demais, se contentam com a efêmera sensação de ser feliz, só porque, num dia de céu claro, um leve sorriso foi visto no espelho.

Antropocentrismo

Eu não tenho visibilidade. Tudo que sou, oculta-se em mim mesmo. Eu sou o meu público. Num passado não tão distante, feria-me não ser notado. Queria eu ser a atração principal nesse gigantesco palco que é o mundo. Queria eu desfrutar da fama anônima de ser querido por todos aqueles que vislumbraram um dia minha face, mas a realidade era de que, nem aqueles próximos a mim, me notavam.

Esse passado, não tão distante, passou. Ressurge algumas vezes apenas como comparativo reflexivo, um marco, de onde saí para onde estou. Este corte de papel me sangraria, outrora, como se uma artéria tivesse sido ferida. Era a minha danação.

Hoje sou eu o meu próprio público e, por mais que eu possua críticas às performances que produzo, me entretenho de tal modo, que minha ovação de meus pequenos progressos, soam como se uma multidão universal me tivesse percebido. Eu sou o meu mundo. E numa galáxia que é existir, assim como os planetas exercem atração pelos demais corpos celestes, eu, um ser integral, exerço atração por outros mundos, que são as outras pessoas. Alguns errantes como cometas, asteróides ou demais corpos celestes que vagam sem rumo, passam por mim, impactam e depois se vão. Alguns deixam crateras, cuja natureza do tempo irá tratar de absorver e envolver na nova paisagem, que advinda de uma tragédia, ainda assim será bela.

Não sou uma fênix, pois para sê-lo, teria eu de ter sido aniquilado para ressurgir das cinzas. Não, não sou uma fênix. Sou apenas quem sou. E ser apenas eu mesmo é como se eu fosse dezenas, já que ontem eu era uma pessoa, e hoje, ainda sou como ontem, porém diferente. Somos todos um navio de Teseu, talvez? A cada dia substituímos peças em nós mesmos, permanecemos nós mesmos, as pessoas nos vêem como nós mesmos, mas fomos substituindo valores, objetivos, sonhos, convicções, tão sutilmente, que permanecemos nós mesmos, mas não os mesmos que fomos ontem. Evolução?

Sou invisível às massas, mas quem me olha de olhos fechados me enxerga. Eu era um antopocentrista egoísta. O mundo girava em torno de mim. Eu o irritava, eu o animava, eu o entristecia e eu o entretinha. O mundo todo era meu e só eu podia carregar. E então sucumbiu o mundo em mim e agora o meu mundo sou eu.

Tendo eu agora apenas a responsabilidade de carregar a mim mesmo, posso olhar para outros mundos, contemplá-los, apreciá-los, gravitá-los, completá-los e ainda serei somente eu.

Eu sou o meu mundo e meu mundo orbita sóis e compõe galáxias. Essas galáxias constituem o vasto universo que é viver!

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