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Último Texto

Dignidade

Não sou digno que a felicidade sorria para mim. Perceba que eu disse que não sou digno e não sou merecedor. É que a felicidade é fim último de todos e todos, sem exceção a merece. Mas ser digno de felicidade é diferente. Só é digno da felicidade aquele que possui bravura. É aquele que não tem medo dos nãos e das portas fechadas. Aquele que cria as condições ou, pelo menos, tenta criar os meios de atingi-la.  A felicidade é passiva. Você quem deve ir atrás dela e não esperar que ela aconteça. A felicidade se constrói enquanto se vive, não é um estado de graça, que uma vez atingido, permanece. Ela é como a própria vida. Ela até paira por nós, mas só de fato vive àquele que escolhe os próprios caminhos.  Só é feliz quem vive. Só vive quem é feliz. Os demais, se contentam com a efêmera sensação de ser feliz, só porque, num dia de céu claro, um leve sorriso foi visto no espelho.

Solidão Acompanhada

Ninguém me entende. É assim que me sinto boa parte do tempo. Fechado em mim mesmo, criador e criatura dos meus processos internos, vejo o mundo como um espectador, na maior parte do tempo, refém daquilo que a vida me impõe. Nas poucas ocasiões em que me exponho, que me permito abrir as pequenas janelas que me conectam ao mundo, minhas opiniões são ignoradas ou ridicularizadas, e assim, escolho, mais uma vez, me "ensimesmar". 

Considero que a melhor companhia que eu tenho é a da solidão. Me refugiar em melancolias, paisagens acinzentadas, melodias que flertam com a tristeza. Me jogo em abismos literários que fortalecem e sustentam minhas crenças de que confiar no homem é a pior das escolhas, apesar de ser a única escolha que nos resta, afinal de contas, sozinho não se vive. Viver. Talvez eu nem viva, somente exista. A passagem do tempo apenas muda os personagens que me cercam, a história é a mesma. Eu comigo mesmo. As paixões não me satisfazem, as pessoas não se conectam comigo, apesar de eu achar que, num ato grandioso de demonstração de afeto, eu persista na criação dessas conexões, que no fim, são todas efêmeras.

Os grandes mestres das letras, dos filósofos aos poetas, esses sim compreendem como é ser prisioneiro de si mesmo, de se sentir sozinho no meio de uma multidão que não dá a mínima para aquilo que não seja eles mesmos ou que os interesse. O mundo é um caos, a modernidade agora é líquida e sentir é fora de moda. Pegue mas não se apegue. Chova corações em nossas fotos, mas em nossos corações não há mais nada. Amemos mais aos outros do que a nós mesmos, mas finjamos todos que sabemos amar. Prefiro então a minha própria solidão do que viver essa solidão acompanhada.

Comentários

  1. Nietzsche diria que a solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais, e que não atrapalhem a minha solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia. As criaturas melancólicas aprendem desde cedo que a vida é dor, em virtude disso tendem a se inclinar ao pessimismo, num mundo de ilusões se isolar se torna se não mais uma ilusão irrisória, o segredo é compreender aquilo que o homem do Subsolo compreendeu, que a modernidade é podre e que não resta mais nada as almas que chegaram a esse elucidação de que persistir nas ilusões é válido para tudo, então de que modo não seria também válido persistir na ilusão de que sozinhos conseguimos ser melhores? Por dias me coloquei diante do abismo, o encarei profundamente, de modo que ele também passou a olhar para mim, a minha alma se fundiu a sua imensa escuridão, na beira qual outra ação mais válida ao espírito seria do que não se lançar? E se caímos, que aproveitamos a queda e dançamos enquanto ela durar.

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