Cantando

Hoje eu abri o gravador de voz do meu telefone e me pus a cantar. Não é que a vida esteja fácil e a felicidade seja plena, é que apesar das dificuldades e dos dissabores com os quais a vida nos surpreende, nos entremeios, há também doçura. Esse sabor doce está naqueles pequenos prazeres que a gente, não com a frequência que deveria, desfruta no meio daquele dia corrido. É quando a gente abre aquela playlist de anos atrás e escuta de novo uma música que, de tão marcante e significativa que foi à época, ela traz, além do som, o cheiro, as cores e os sentimentos que ali viviam. É quando a gente olha aquela foto, geralmente a pior de todas elas, onde todos na foto sorriem e você se pega sorrindo por àquela lembrança, pensando quando foi a última vez que aquele mesmo sorriso foi dado. É quando, sem razão nenhuma, você recebe um elogio ou um lembrete que acalenta o coração, vindo daquela pessoa tão significativa para você. A vida, meus caros leitores, não é vivida nas turbulências que parecem infindáveis ou nas grandes alegrias exponenciais que se tornam marcos positivo de nossa linha do tempo. A vida é vivida nesses pequenos momentos em que, sozinhos ou acompanhados, a gente se pega pensando no quanto queremos viver. São nos momentos que quase nunca registramos, que quase não valorizamos, que a vida se dá. Abra seu gravador de voz, respire fundo e cante. As dificuldades e dores não vão sumir num passe de mágica, mas te dará combustível para esperar o próximo momento que te fará querer cantar sem saber porquê.