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Último Texto

Dignidade

Não sou digno que a felicidade sorria para mim. Perceba que eu disse que não sou digno e não sou merecedor. É que a felicidade é fim último de todos e todos, sem exceção a merece. Mas ser digno de felicidade é diferente. Só é digno da felicidade aquele que possui bravura. É aquele que não tem medo dos nãos e das portas fechadas. Aquele que cria as condições ou, pelo menos, tenta criar os meios de atingi-la.  A felicidade é passiva. Você quem deve ir atrás dela e não esperar que ela aconteça. A felicidade se constrói enquanto se vive, não é um estado de graça, que uma vez atingido, permanece. Ela é como a própria vida. Ela até paira por nós, mas só de fato vive àquele que escolhe os próprios caminhos.  Só é feliz quem vive. Só vive quem é feliz. Os demais, se contentam com a efêmera sensação de ser feliz, só porque, num dia de céu claro, um leve sorriso foi visto no espelho.

Cartas

Montes Claros, uma data qualquer

Olá, minha doce e amada amiga, há tempos que não trocamos uma carta entre nós, não é mesmo? Parece que essa não é mais uma prática comum entre as pessoas. De todo modo, eu vejo um quê de romantismo e sofisticação em se trocar uma carta com alguém, principalmente se for um alguém se ama. Acho que é porque uma carta, para ser escrita, demanda tempo, o que já é um gesto muito bonito de se fazer: dedicar tempo a algo ou alguém. Nos dias de hoje, a quantidade de coisas para serem feitas e de coisas para se distrair é tão grande, que ou as pessoas não estão dispostas ou se esquecem. E é tão fácil também contatar alguém, que dedicar tempo àquela pessoa, às vezes, acaba ficando em segundo plano. Estou a um braço de distância do meu celular, daqui a pouco eu envio uma mensagem. É como se fosse uma carta, mas é virtual e nem é muito formal, então nem se precisa de tempo para elaborar uma mensagem. As cartas não. Não estamos nos vendo, como nas mensagens, mas quero passar uma imagem para você através de minhas palavras, por isso, é preciso que eu elabore e escolha bem aquilo que vou dizer. Às vezes o tom da carta fica tão destoante daquilo que se quer dizer, que são precisos vários rascunhos. Talvez essa versão que está recebendo seja a primeira, talvez seja a décima que escrevi. Nem eu sei mais o número. 

Sabe, minha cara amiga, hoje me lembrei de você com um pouco mais de força. Vi uma cena nos corredores do supermercado, que instintivamente, a minha memória foi levada até você, naquele dia em que, não me lembro mais a tolice que eu disse, você se acabou em gargalhada. Adorável o som da sua risada e do seu olhar envergonhado por grunhir, sem nem poder se controlar, enquanto tentava respirar em meio à gargalhada. Isso também me faz pensar que não se fazem mais gargalhadas como antigamente. Ou será que nós, como adultos, gargalhamos tão pouco, que esquecemos como é aproveitar as nuances dessa risada descontrolada? Mas o foco aqui era na corriqueira imagem cotidiana que vi e me lembrou você. Não que seja necessário um gatilho para que eu me lembre. Foi só um gatilho para que eu pudesse escrever.

Talvez, neste ponto do texto, você esteja se perguntando porque diabos resolvi escrever uma carta. Como citei acima, cartas possuem seu charme, o que já motivo suficiente para escrevê-las. Mas a verdade é que no meio de todas essas palavras estão camufladas tantas outras, mais profundas e melosas e memoráveis (ou não), que eu não ouso dizer em voz alta, muito menos quando você é minha interlocutora, apesar de ser você objeto de tais palavras. Covardia ou senso de realidade? Ou quem sabe suposição de senso de realidade. Nada é certo até que aconteça, não é verdade? Mas deixemos isso de lado, não faz muita diferença, até fazer diferença (todo estoico ele).

Por aqui as coisas vão muito bem. Tenho conseguido aproveitar os momentos e até relaxar, acredita? O tempo para mim também possui as mesmas vinte quatro horas de todo mundo, mas tenho aprendido a priorizar o que é importante. E surpreendentemente, as coisas tem se mostrado mais positivas do que negativas, como é comum de se ouvir por aí. E com essa mensagem de positividade, vou findando esse esboço de carta, que talvez seja a versão final ou talvez seja mais um dos muitos rascunhos que escrevo, só para relembrar tempos em que as demonstrações de afetos iam muito além das superfícies de presentes, onde as reciprocidades não eram tão raras e as histórias de amor não eram meramente textos em livros e filmes.

De seu adorado amigo, com muito amor, eu.

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